quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

PEQUENOS CONTOS - DÔNIO DOS VENTOS


Ap
esar dos olhares desconfiados desde que entrei na taverna, as pessoas foram ficando menos inquietas com minha presença, conforme o tempo passava. Continuei comendo meu modesto dejejum e observando as atividades alheias, no canto leste da taverna de nome engraçado, RATO UIVANTE. Um nome inapropriado para o pequenino estabelecimento feito em madeira, e que parecia cheio mesmo com meia dúzia de pessoas ali.

Mas um mago não se pode dar a determinados luxos. A pele manchada pelas marcas das partículas barah, já causam estranheza o suficiente. Imagine se um velho, de um povo pouco conhecido, começar a dar palpites sobre o nome de estabelecimentos!

Até que a porta se abre, chamando a atenção de todos. De onde eu estava não podia ver diretamente o recém chegado. Uma parede interferia na visão física. Mas eu senti que se tratava de alguém especial. E o silêncio dos homens, que antes conversavam alterados pela bebida, confirmava minha intuição.

Continuei a comer. O queijo velho me dava lembranças de outros tempos. Mas, ciente dos movimentos da pessoa que chegou, tendo um pressentimento que eu seria incomodado logo, logo, talvez fosse a última refeição que faria naquela cidade.

- Procuro o mago Dônio dos Ventos. Ele foi visto entrando nesta taverna. - Disse uma voz feminina, mas cheia de força e autoridade, não deixando alternativa para os aldeões, a não ser de apontarem para minha mesa reservada.

Passos firmes indicavam ímpeto. O som do metal anunciava uma armadura cara. Terminei o queijo ao mesmo tempo em que a mulher armadurada entrava no meu campo de visão.

- Dônio dos Ventos? - Uma pergunta direta. Já gostei dela, porém terminei de mastigar e engolir com calma. Só depois olhei, sem muito interesse, para o rosto duro que me encarava.

- Não estou interessado - respondi sem vontade. Uma mulher alta e forte, àquela distância, poderia tentar um ataque rápido. Seria um problema, mas eu estava preparado.

- Mas eu não falei coisa alguma, ainda.

- Estou economizando o seu tempo e o meu…não precisa agradecer.

- Mesmo assim, meu empregador quer que eu lhe fale em particular. Poderia pelo...

- Por favor, não tenho tempo. Partirei assim que pagar o Taverneiro.

- É sobre os ELEMENTAIS! - Ela colocou uma gravidade na voz suficiente para que eu me calasse.

Olhei para os aldeões que acompanhavam a conversa. Eles fingiram, atrapalhados, mudarem o foco de suas atenções. Mas ainda estavam tentando ouvir a respeito.

Preferi ser cortês. Com a mão, indiquei a cadeira à minha frente, para que ela se sentasse. Assuntos complicados merecem atenção.


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